Acordei às 6h da manhã com vontade de permanecer aquecido nos lençóis que ainda estavam dispostos sobre a cama. Por outro lado, ao lembrar do que estava por vir, veio uma sensação de que mais uma bela e inesquecível experiência me aguardava. Marcamos o ponto de encontro e saída, como de costume, no CED 06 de Taguatinga às 7h.
Partimos eu, Lorenna, Max, Well (Seta), Edd e sua amiga Gabi rumo ao Parque dos Pirineus que está localizado entre os municípios de Pirenópolis, Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás. Passamos num mercadinho antes de chegar para comprar alguns mantimentos, pois não sabíamos a hora de voltar, mas que estava prevista para o final daquele dia.
Levamos alguns pacotes de macarrão instantâneo, sopa, O Max estava com muita fome e comprou logo 1kg de salgado, que por sinal estava uma delícia; ainda levamos frutas, chocolate, pães e o que não poderia faltar – uma rapadura batida.
Ao chegar no parque fomos ao encontro de um amigo nosso e guarda do parque – Iani, que como sempre, nos recebeu muito bem. Ficamos ali alguns minutos jogando conversa fora e abastecendo nossos recipientes com água fresca para que pudéssemos nos hidratar ao longo do dia.
Passados alguns minutos nos despedimos dele e acompanhamos Fábio e seu amigo até uma estrada que ficava, aparentemente, próxima ao local de onde queríamos chegar, a cachoeira do Leão, a qual só ouvíamos falar, mas ninguém do grupo a conhecia.
Como somos movidos a desafios e rumo ao desconhecido, decidimos então parar os carros no local orientado por eles e que, caso quiséssemos seguir mais um pouco corríamos o risco de ficar no atoleiro, pois é uma área circunvizinha a um brejo.
Carros apostos e mochilas nas costas, iniciamos a nossa caminhada rumo à cachoeira. Um dia lindo, apesar de acordar nublado. No caminho só paisagens de tirar o fôlego, que sinalizava o que estava por vir. Ao longo da caminhada nem mesmo as poças de água eram limitadoras e só aumentavam a vontade de seguir adiante.
Chegamos num ponto que imaginávamos ser o que tanto esperávamos, iniciamos a descida e logo de cara encontramos trechos muito íngremes e com um grau de dificuldade médio. Após descer por uns 150m, nos deparamos com um penhasco, procuramos alguma rota alternativa próxima, mas não encontramos. Decidimos então voltar à estrada e tentar acessar após uma grande montanha que estava próxima do local que precisávamos ir.
No retorno para a estrada nosso amigo Edd estava escorregando muito num dos trechos que estava com curso de água no meio, a equipe achou a situação muito engraçada, só ele que acho não ter gostado muito e, decidiu subir por outro caminho, desta vez com sucesso.
Seguimos nosso caminho pela trilha até que conseguimos avistar a cachoeira de longe. Edd e Max desceram para ver como estava o acesso pela mata, voltaram alguns minutos depois com o relato de que estava muito fechada e que o acesso seria bem difícil. Estudamos a situação e seguimos mais um pouco na expectativa de encontrar uma clareira na mata.
Caminhando por uns 800m e decidimos adentrar na mata pois não havia mais indicadores de que poderia haver alguma clareira. Acabamos nos complicando um pouco nesta decisão porque ela nos custaria um maior esforço para abrir caminho no meio da mata fechada uma vez que ficamos distantes da cachoeira. Como estávamos ali para isso, decidimos então iniciar a caminhada enquanto abríamos caminho na mata com o uso de facões.
O percurso muito complicado, desafiador e lindo ao mesmo tempo. Após uns 30 minutos mata adentro começou a chover, nesse momento chegamos a pensar que o que já estava complicado ficaria ainda mais. A chuva logo passou e continuamos a avançar mata a dentro até encontrar um pequeno riachinho, o que nos deixou cheios de esperança para encontrar a tão sonhada cachoeira da Toca do Leão. Mal sabíamos que ali era só o começo de mais um longo e turbulento trajeto. O relógio marcava 15h e ainda não tínhamos chegado ao destino inicialmente pretendido, paramos, pensamos e decidimos que, dada a hora, teríamos pouco tempo antes de começar a escurecer, nesse instante tivemos de “abortar” a missão.
Abortar missão não costuma fazer parte do meu cotidiano, dá no início a sensação de dever não cumprido e lidar com isso é bastante desagradável.
Por outro lado, a experiência vai nos mostrando que não precisamos provar nada para ninguém, que devemos viver a vida com o outro, não a vida do outro; que por vezes é preciso reconhecer e lidar com as limitações; que as mudanças de roteiro as vezes são necessárias e demandam sensibilidade. Isso pesou na minha decisão que foi compartilhada com o grupo.
A vida é uma caixa de surpresas e umas delas pode ser exatamente a mudança do que havia sido planejado num primeiro momento. A natureza nos proporciona lições que levamos para a vida e olha que achei que já tinha tido várias.
Iniciamos então o caminho de volta, nessa altura a equipe já apresentava certo cansaço e fome. Uma hora de caminhada e lá estávamos na estrada novamente, de longe avistamos um local que outrora parecia familiar e de fato era, uma outra cachoeira, decidimos então seguir caminho até lá aproveitando para preparar nosso almoço.
Estava um final de tarde lindo e com a companhia do sol. Ficamos ali até nos alimentarmos e tomar um banho de cachoeira. Recolhemos todo o material, incluindo o lixo e seguimos rumo aos carros para aproveitar e apreciar o pôr do sol do pico dos Pirineus. Chegando nos carros percebemos que com a chuva o terreno estava bastante úmido. Max tentou tirar o carro e não conseguiu, ficando preso na lama.
Tentamos empurrar de todas as formas, mas sem sucesso. Tentamos fazer a base com pedras e galhos, mas também não obtendo êxito. Seta também tentou tirar o carro daquele trecho e ficou preso da mesma maneira. Começamos então a pensar em alguma alternativa de auxílio para sair daquela situação. A noite já era anunciada e, todas as tentativas foram frustradas. Naquela altura não havia nada a fazer a não ser pernoitar nos carros até que a manhã chegasse e então, pudéssemos ser resgatados.
Às 5h um raio tímido de luz adentra pela janela do carro, era o sinal de que o dia estava a nascer, lindíssimo por sinal. Pouco tempo depois todos estávamos acordados e na expectativa de uma resolução para o problema. Ligamos para um auto socorro do município de Cocalzinho de goiás e para nossa surpresa de pronto fomos atendidos. O processo de retirada foi bem complexo porque nem mesmo o caminhão pôde chegar perto do local que estávamos pois corria o risco de também ficar preso.
Enfim, por volta das 10h conseguimos colocar os carros na estrada novamente, rumo à casa e com a certeza de dever cumprido, apesar de todas as adversidades. Foi uma experiência incrível e que fez com que pudéssemos identificar alguns limites, aprender o que se deve e o que não se deve fazer numa imersão como essas e acima de tudo, estreitou ainda mais os laços de amizade e companheirismo entre membros da equipe.
A vida é feita de histórias e, o que seria de nós se não tivéssemos várias para contar? Que sigamos em busca do desconhecido, tocando o intocável e esperando o inesperado.
Por: Fernando Alves
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