Uma jornada mais que esperada!
Há exatamente um ano atrás o Fernando Alves comentou comigo a respeito de uma prova incrível, a qual ele havia concluído. Nessa prova veio a cair, machucar o joelho, se perder, além de vários outros perrengues. Mas o que mais me chamou a atenção foi o brilho nos olhos quando ele e a Lorenna Bourguignon relataram os detalhes da prova, aquilo foi me contagiando de uma forma inexplicável.
Na época, eu corria fazia pouco mais de um ano, e em silêncio me propus a participar dessa prova no ano seguinte, só que pra isso eu precisaria me credenciar, afinal de contas a Corta Mato é a prova mais dura do DF e para participar é preciso enviar seu currículo de corridas anteriores. Pois assim eu fiz, treinei, me inscrevi em provas menores e fui aumentando as distâncias de forma gradativa.
Em meio a minha jornada de preparação tive uma série de lesões, as quais me fizeram pensar em desistir por várias vezes, não aguentava mais lesionar joelho, tendão, tornozelo. Dessas lesões, a mais frustrante pra mim, foi a que tive na lombar, o que me deixou cerca de três meses parado. Como um bom guerreiro, tratei das feridas e continuei avançando rumo ao desconhecido.
Foi chegando a época da inscrição e a minha ansiedade só aumentou, eu estava pensando em fazer o percurso de 40km, porém em um diálogo com meus amigos do Trilhas Pelo Mundo (Douglas e Fernando), que também iriam participar da prova, terminei me inscrevendo para a maior distância, 60Km. Sim, eu me inscrevi pra minha primeira ultramaratona, e quando recebi o email do Frank, aceitando minha inscrição, a ficha caiu e vi que não tinha mais volta.
Segui firme com o treinamento de corrida e musculação, minha Personal Andressa Vital montava treinos específicos para o fortalecimento do corpo inteiro, mas a ênfase era nos membros inferiores. Ela estava tão empenhada quanto eu nesse projeto. O Matheus Abrantes me ajudava com os treinos regenerativos e fortalecimento específico de core. Não queríamos mais saber de lesões, principalmente durante a prova.
E chegou o grande dia, 16/07/2017!
Largada às 5h da matina, equipado, credenciado e autorizado a largar.
Eu me preparei igual a um louco para o desconhecido, não fazia ideia do que teria pela frente e logo de cara enfrentamos a subida de um morro imenso, sem exagero, a parada era realmente muito alta e lá no topo estava o primeiro PC – Ponto de Controle.
Pouco depois de passar por esse ponto conheci o Arneiro, atleta experiente, com muitos anos de corrida, conversamos e intuitivamente seguimos o percurso juntos. Foi um grande aprendizado pra mim, afinal, era a minha primeira ultramaratona e nada melhor que seguir com alguém que já havia realizado aquela e várias outras provas do gênero.
Avançamos por horas madrugada afora, desbravando o cerrado fechado, entre pedras, espinhos e teias de aranha. “Nesse momento eu me sentia o próprio Bilbo Bolseiro perdido na Floresta das Trevas com a companhia dos anões em busca da Montanha Solitária”, sim, e logo a frente, após amanhecer, nos deparamos com outro morro “infinito”, ao qual era possível ver todo o conjunto de morros e vales por onde passaríamos durante a prova.
Em um determinado trecho encontramos um atleta perdido, o que nos fez perder um bom tempo até achar o caminho correto, passamos um rádio pra base, nos localizamos e seguimos. Continuamos até chegar a um riacho, este deveríamos transpor rio abaixo e, mais uma vez lá estava eu me sentindo o Sr Bolseiro, “descendo rio abaixo dentro de um barril para fugir de Elfos e Goblins assassinos”, mal sabia eu que mais tarde iria desejar muito aquele rio novamente.
Concluímos os trechos de montanhas até chegar na base de controle, abastecemos nossos reservatórios e partimos para o trecho do estradão. Eu imaginei que essa seria a parte fácil da prova, mas o calor de 34° me mostrou estar redondamente enganado. Ah sim, a altimetria dessa estrada também não era nada amigável. Por volta das 11h chegamos a um outro percurso d’agua, e optamos em fazer uma parada estratégica para almoçar e reabastecer os squeezes.
Por volta do km 30/35 comecei a sentir fortes cãibras nas pernas, então pensei “PQP, treinei tanto é não vou conseguir concluir essa parada!”, e quando comentei das cãibras com o Arneiro, ele de pronto já disse: “- É falta de sal, use as cápsulas!”. Então tudo fez sentido, fiz a suplementação e seguimos até a base de controle novamente. De lá retornaríamos para as montanhas, como destino final da prova.
Seguimos firmes em direção ao agora conhecido mundo de montanhas, vales e rochas. Evoluímos bem até as bolhas começarem a me castigar, algo que já era esperado. Pra esquecer a dor passei a curtir ainda mais o percurso, afinal, estava um dia bonito e sem nuvens. Saímos novamente do riacho e seguimos montanha acima até chegar novamente ao pc3. Logo a frente havia outro atleta perdido, o que nos fez perder um certo tempo até nos localizarmos, mas seguimos o mesmo protocolo da outra vez até encontrar a direção correta.
Tinha a esperança de concluir a prova antes do anoitecer, o que não foi possível por conta dos percalços encontrados. Era por volta das 16:30 quando chegamos ao km 50 e pensei: “- Ufa, falta pouco!”. Um breve engano para alguém inexperiente nesse tipo de prova como eu. Esses quilômetros finais levaram horas, pois logo anoiteceu e a trilha inversa parecia ser ainda mais dura do que na ida. Percebemos que o jeito era seguirmos com cautela e manter o foco em concluir a prova. Assim fizemos até cruzar a linha de chegada, 16h depois do início.
A emoção em terminar essa prova não cabia em minha carcaça, depois de um dia inteiro desbravando o desconhecido pude enfim desfrutar das emoções as quais o Fernando e a Lorenna me falavam no início deste relato.
Foi um experiência incrível e imensurável, a sensação de dever cumprido era nítida como podem ver no vídeo abaixo.
Do caralho Wellington. Parabéns pelo relato. Ano que vem estamos todos lá novamente. Pra cima.
Que empolgante !!!
Ótimo relato brother 👏👏👏
Curti a analogia com o Senhor dos Anéis 😂😂😂
A prova foi top é e vc traduziu bem isso. Com certeza vc curtiu mais do que eu hahaha… eu fico meio obcecado quando entro em modo de competição 😂😂😂
Passei por vc e o Arneiro 2 vezes e dei pra perceber que vcs estavam formando uma dupla muito forte. Sabia que vcs iriam vencer o desafio.
Valeu camarada 👊
pessoas assim que a corta mato gosta.