Entre montanhas e riachos.
O plano era sair de Brasília ás 19h do dia 25/03 para realizar o nosso tão esperado trekking da semana Santa. Mas, logo de cara tivemos alguns pequenos desencontros, o que nos custou algumas horas de atraso. Nada que tirasse nossa empolgação para colocar as mochilas nas costas e meter os pés na estrada.
Assim que conseguimos reunir o grupo que iria participar da aventura, eu, Lorenna, Fernando, Edd e Max, passamos em um supermercado localizado em Ceilândia Centro para comprar o restante dos mantimentos que ainda faltavam. Depois de abastecer o trovão (meu carro) partimos rumo às gloriosas Cachoeiras do Macacão, localizadas na Chapada dos Veadeiros, a uns 230 Km de Brasília.
A Chapada dos Veadeiros é conhecida pela quantidade incrível de nascentes de água pura e cristalina, as quais mataram nossa sede por vários momentos, como descreverei adiante. Ás 3:30 chegamos a nossa base de partida, o Restaurante Caipira, localizado na BR 010 rumo a Alto Paraíso, aproveitamos para descansar algumas horas antes de enfrentar a estrada e não caminhar na penumbra. Estávamos de pé às 6h da matina, quando fomos recebidos pelo Sr. Osmar e pela Dona Guiomar, ambos foram muito atenciosos conosco, o Osmar logo se juntou a nós enquanto preparávamos um café da manhã reforçado.
Tudo pronto, deixamos o trovão estacionado no restaurante, colocamos as mochilas nas costas e pés na estrada. Os primeiros 3,5km foram na beira da BR, mas como estávamos bem descansados e empolgados com o trekking logo vencemos esse trecho até chegar ao acesso da estrada de chão. Mal sabíamos nós que ao regresso da nossa jornada esses 3,5 Km iriam parecer intermináveis.

Seguimos caminhando por cerca de mais 5km, quando percebi que minhas mãos estavam ficando inchadas, causando um leve desconforto. Cuidamos logo disso ajeitando a mochila para liberar a circulação, logo a frente notamos que o Max já estava mancando e achamos melhor fazer uma parada rápida para ver o que estava acontecendo. “Uma pedra nos sapatos” e meias de algodão eram o problema, fizemos um pequeno curativo para aliviar a dor, a Lorenna de prontidão cedeu um par de meias apropriadas para longas caminhadas e seguimos em frente.
Aproveitamos ao máximo os primeiros km, fizemos algumas paradas curtas para admirar a paisagem, tirar fotos e compartilhar de boas gargalhadas, afinal, grandes jornadas rendem grandes histórias. Em meio a conversas e devaneios nos deparamos com uma placa indicando o caminho para as Cachoeiras do Macaquinho, por lógica seguimos na outra direção, pois queríamos ir pras cachoeiras do Macacão. Por algum tempo ficamos nos questionando se aquele era mesmo o caminho certo. O Fernando afirmava que sim, a Lorenna dizia que não. Bom, eles dois eram os únicos que haviam feito aquele trajeto e nós tínhamos de confiar na decisão deles. A essa hora o sol já começava a castigar e percebemos que seria inviável percorrer tantos quilometro na direção errada, paramos debaixo das árvores ao lado de um riachinho para almoçar, enquanto preparávamos o almoço o Fernando pediu que o Ed e Max voltassem a uma casa que vimos pelo caminho para confirmar se estávamos na direção certa.
Enquanto nosso Brothers estavam a caminho para confirmar nossa rota, eu aproveitei para apreciar o canto dos pássaros e a brisa do vento em meio as árvores. Almoçamos e deixamos o almoço deles pré-preparado para não correr o risco de esfriar antes que eles voltassem. O Fernando e a Lorenna aproveitaram pra tirar um breve cochilo enquanto eu, como um bom leonino, fui explorar o local do acampamento, logo encontrei algumas teias de aranhas em formas cônicas, uma perfeita armadilha para alguns insetos distraídos. Continuei a observar a fauna até encontrar um pequeno cogumelo vermelho, ou seria uma flor?! “Se alguém souber que planta é essa, por favor deixe nos comentários!” =D
As 12h30min eles voltam dizendo que tinham duas notícias, uma boa e outra ruim. Ficamos apreensivos, mas logo pedimos para falarem a má noticia primeiro, rindo pra caramba eles disseram que a casa tinha ficado a uns 3 km pra trás e que da próxima o Fernando faria a volta e, a boa é que de acordo com Phil – o proprietário da fazenda – nós estávamos sim na direção certa. Aliviados esperamos os meninos se alimentarem e descansarem um pouco para seguirmos em frente.
Levantamos acampamento e partimos imaginando que faltavam apenas 15 dos 33km (doce ilusão), seguimos sem parar por umas 2h com o sol castigando, parecia estar a uns 38º, não avistávamos uma árvore a um bom tempo, até enxergarmos de longe outro riacho, parecia que tínhamos encontrado o final do arco-íris de tão felizes que ficamos. Paramos para nos refrescar e reabastecer nossas garrafas d’água. Neste momento a Cris e o Carlos – nossos anfitriões – passaram por nós e perguntaram, em tom de brincadeira, se queríamos que eles mandassem o Zezinho (Kalunga que cuida da Fazenda) vir ao nosso encontro com alguns cavalos. A ideia inicial era fazer um trekking, então todos concordaram que não era necessário. (Deveríamos ter aceitado a proposta deles srsrrs).
As 16 horas eu já não aguentava mais dar um passo se quer, meus pés já estavam cheios de bolhas e as panturrilhas ameaçavam dar câimbras, mas não tinha escolha e nem para onde correr, tinha que seguir em frente, e se tivesse pra onde correr eu não conseguiria também “srrsrssrsrsrrs”.
Lá no inicio eu exaltei as lindas nascentes da Chapada, vai por mim, essa em especial vai ficar pra sempre na minha memória, quando a vi, logo disse: “Pelo amor de Deus, vamos parar alguns minutos para eu refrescar meus pés!” – Todos rimos da situação e paramos para lanchar e, literalmente refrescar os pés, nesse momento percebi a quantidade de bolhas e de imediato passei a trabalhar o meu psicológico para que esse pequeno impasse não me impedisse de chegar até o final dessa jornada. Dito e feito, reorganizamos nossas coisas e partimos para reta final até chegarmos em mais um ponto de indecisão, neste local havia sido construído recentemente algumas casas de temporada, as
quais o Fernando e a Lorenna não conheciam. Estávamos literalmente estafados e não aguentaríamos um percurso errado, percebendo a situação, o Fernando tirou forças de Deus sabe lá de onde e, correu a frente para ver se era o caminho certo, alguns minutos depois ele volta sorrindo com a foto da porteira da Fazenda Macaco.
Faltava pouco, mas era um trecho que parecia infinito, atravessamos mais dois riachos até chegarmos ao local que passaríamos a noite. Eu estava super feliz por ter completado os primeiros 37,5km, porém, totalmente destruído, a Lorenna e o Max também estavam com muitas dores nos pés e nos joelhos. Nesse momento me perguntava se teria forças suficiente para ir as cachoeiras no dia seguinte, foi quando em uma conversa de amigos o Fernando me acalmou dizendo: “Podem ficar tranquilos, tomem um banho, jantem e depois furem as bolhas dos pés. Amanhã vamos estar prontos pra mais alguns quilometros.” Mesmo sem forças, eu ri muito dessas falas, pois eu estava realmente desacreditado de mim.
Montamos as barracas embaixo de uma choupana onde tínhamos inclusive, um fogão a lenha . Ainda bem que tinha essa choupana, pois 40min depois de chegarmos à fazenda começou uma ventania seguida de uma tempestade muito forte, foi quando aproveitei a deixa para ir para minha barraca fazer algumas anotações, tomar um relaxante muscular e dormir. Levantamos às 7h no dia seguinte e percebi que o Fernando tinha razão, estávamos todos bem dispostos e cheios de energias para a próxima empreitada.
Preparamos uma mochila com alguns mantimentos, comemos o desjejum e partimos para o ápice de nossa aventura, as gloriosas Cachoeiras do Macacão, as quais ficam a apenas 7km de caminhada da fazenda que acampamos.
Aquela manhã estava especialmente bela e refrescante, a chuva da noite anterior deixou o ar fresco e a temperatura agradável. Iniciamos nossa caminhada apreciando a natureza e rindo uns com os outros entre montanhas e riachos, foi em média 1h30min de caminhada até chegarmos ao primeiro Cânion, incrível e perfeito assim como a natureza deve ser. Paramos para admirar a paisagem e tirar algumas fotos.
Seguimos em frente montanha acima e mata adentro até chegarmos à prainha e um grande lago natural de água corrente, se prestar atenção verá que esse lugar está logo abaixo do cânion que vimos na primeira decida. Ficamos um pouco por ali e logo partimos para explorar outras quedas d’água, a principio fomos margeando rio abaixo até chegar a um ponto onde não dava mais para seguir com segurança, então decidimos voltar e pegar a trilha convencional.
Voltamos alguns metros até chegar a trilha, parecia que ninguém ia por ali a um bom tempo, a mata estava muito fechada e tivemos de ir abrindo caminho com bastante atenção para não nos perdemos na volta, essa parte estava tão divertida que parecíamos crianças brincando no playground. Chegamos em outra grande piscina natural, decidimos montar ali o acampamento para almoçar, o tempo estava fechando e previmos que choveria em algumas poucas horas, então agilizamos o banquete regado a macarrão instantâneo, feijões, azeitonas e atum.
Enquanto o almoço estava sendo preparado Ed e o Max foram explorar os cânions, até banho de espuma esse fanfarrão tomou. Convenhamos, pela coragem foi bem merecido. Nos alimentamos, recolhemos todo o lixo e partimos para o caminho de volta. Antes de subirmos a montanha a Lorenna sugeriu que pegássemos outro caminho, pois havia reconhecido a margem da prainha a uns 800 metros de onde estávamos. Ficamos apreensivos, mas ela estava muito segura do que estava falando, foi quando o grupo decidiu seguir as orientações dela e, foi tão assertiva que economizamos uns 30 minutos no mínimo do percurso de volta. A essa hora já garoava bastante, mas logo parou.
No meio do caminho encontramos o Zezinho carregando um tronco de árvore que tinha em media uns 4 metros como se estivesse carregando um saco de arroz, eu fiquei impressionado com aquela cena, então entendi o que falam dos Kalungas daquela região, realmente além de educados e prestativos são bem fortes. Conversamos um pouco com ele e seguimos em frente.
Há alguns metros da fazenda tem um rio de águas transparente onde paramos para nos refrescar antes de voltarmos para o acampamento. Aproveitamos para nadar um pouco enquanto as piabas mordiam nossos pés para comer os restos de matéria orgânica, era uma espécie de pedicure natural.
O dia já estava quase no fim quando decidimos voltar, mal sabíamos nós que a noite preparava uma linda lua cheia, ao redor de uma grande fogueira e muitas risadas. Nossos cozinheiros oficiais (Lorenna e Fernando) prepararam o melhor macarrão de acampamento que já comi. A noite estava realmente incrível e depois de horas e horas de conversas e risadas decidimos preparar nossa coisas, pois partiríamos cedo da manhã seguinte. O plano era levantar às 3h, mais quem disse que alguém conseguiu acordar srrssrrs … levantamos uma 5 horas, desmontamos o acampamento, organizamos o que faltava e colocamos o pé na estrada.
Queríamos avançar ao máximo antes do sol nascer, pois queríamos terminar o percurso das montanhas antes do sol começar a esquentar, o que dificultaria muito a nossa volta. O Max e eu optamos por fazer esses primeiros km de chinelo para não molhar os tênis nas travessias dos riachos mais próximos e não machucar ainda mais os pés.
Conseguimos atingir o nosso objetivo e, por volta das 10h já havíamos avançado toda a parte mais íngreme do nosso trajeto e, quando digo íngreme é porque algumas inclinações eram realmente tensas, por isso só é possível chegar até as cachoeiras com veículos 4×4.
As 11h30min chegamos ao ponto que havíamos planejado parar para descansar e repor as energias do corpo. Ajeitamos nossas coisas e preparamos nossa refeição. Dessa vez decidimos parar embaixo da ponte e percebemos que aquele lugar, ao qual passamos dias antes, era mais bonito do que conseguimos notar.
O Ed logo pediu pra tirar algumas fotos dele naquele local, o Max deitou na beira do riacho com os pés na água, a Lorenna sentou em uma pedra e também deixou os pés na água, claro que eu fiz a mesma coisa, já o Fernando esquentava água para colocar no macarrão. Fizemos uma pausa de 1h, tempo suficiente para descansar e seguir.
Tudo pronto para continuar a jornada, coloquei meus tênis e continuamos a caminhar, nesse momento os trechos pareciam mais fáceis e a empolgação continuava alta. Naturalmente o sol começou a esquentar e o cansaço foi batendo, os pés voltando a doer e os ombros a pesar. Fizemos bem mais paradas na volta do que havíamos planejado, mas todas necessárias. Todos já estávamos de certa forma debilitados, até o Fernando que é o mais preparado da equipe sentiu o desgaste. O Ed mais uma vezes surpreendendo a todos e mostrando que o Crossfit tem proporcionado um condicionamento físico invejável.
Chegamos a BR por volta das 15h e fizemos uma última pausa para tomar folego e finalizarmos aqueles 3,5km que falei para vocês lá no início. Esses quilômetros pareciam triplicar a cada passo, mas tínhamos plena ciência que faltava pouco e começamos a emanar um mantra, todos pensando em uma deliciosa coxinha acompanhada de um suco de laranja natural, rs.
Concluímos nossa jornada após uns 90km e, apesar das dificuldades, afirmo que valeu a pena cada minuto, cada passo e cada calo. Sem dúvidas eu jamais teria visto a beleza daquela cachoeira, aquela lua ou aquele pequeno servo pulando colina acima se tivesse ficado em casa.
Foi realmente incrível…
Ao chegar-mos na Sexta feira da Paixão, depois de praticamente 40km, por volta das 19 horas, fomos surpreendidos por uma tempestade onde os ventos pareciam cavalos invisíveis que faltavam derrubar todas as coisas que estavam à sua frente, e o mais impressionante foram as formas geométricas que ficaram na minha barraca, a única que ficou em meio a tempestade e que por pouco não pereceu à mesma.
A jornada fica leve, quando nosso exército é composto de homens e mulheres fortes e determinados!
Se um dia tive a vontade de desbravar belezas naturais, com este post meu desejo aumentou. Tudo minuciosamente explicado, cada detalhe cheio de emoções. Quando tiver oportunidade, gostaria muito de me juntar a vocês numa aventura dessas. Claro, se possível! Parabéns ao detalhador desta trilha e história.
Muito obrigado Elaine!
Ficamos mega felizes com seu comentário. Será um prazer contar com sua presença em uma de nossas aventuras.
Entraremos em contato logo que tivermos um roteiro de trilhas, cachoeiras e cavernas para levarmos “Os Amigos do Trilhas Pelo Mundo”.