Atravessa o pasto, despista a boiada, desce pelo leito seco do rio, encara os espinhos, lida com a secura, afinal vale tudo para chegar lá, na imponente Caverna da Jabuticaba. Olhando por fora, ela esconde a aventura. Caminho sem volta, é hora de iniciar a travessia de 2km com muita água, frio, insalubridade, escuridão, aranhas e alguns morcegos.
A Caverna que por dentro assusta, também encanta a cada metro que se avança. Paredes, formações… mas, de repente espaços grandes que ficam apertados, cachoeiras lindas que desaguam em buracos profundos, esconderijos que ninguém tem coragem de explorar. É, a Caverna seduz, envolve a gente. Mas o seu vazio não esconde a verdade: é uma armadilha.
Ver a luz do sol no fim das paredes altas traz aquele alívio imediato. Imediato e passageiro, afinal, ninguém sai dali sem um último ato de coragem: pular do alto da pedra.
Como fazer isso quando o corpo todo ainda treme de frio e a perna bambeia de medo?
No ponto mais alto da pedra, penso: a vida me colocou em uma caverna muito mais extensa nos últimos tempos. Mais fria, mais escura e traiçoeira. Quantas vezes eu fiquei submersa até perder o ar? Eu posso até desejar essa Caverna por mais um tempo, mas eu não preciso dela. Esse abismo não é o meu fim, é o meu recomeço.
Todas as vezes que a vida me exigiu coragem, eu pulei. Porque a vida que eu mereço acontece no leito do rio.
Por: Rayane Urani
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